quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Tenho meninos e meninas mais crescidos. Não se esqueceram das rotinas do ano passado e quiseram começar logo por aí: quem distribui os cadernos, os livros, quem marca as presenças e as faltas. Escrevem o plano do dia mais depressa, têm a letra mais bonita, estão altos e com o olhar mais atento.
Ofereceram-me uns abraços cheios de saudade e surpreenderam-me com a força com que me apertaram. Estão cheios de vontade de trabalhar, sinto-os felizes... nos olhares, nos gestos, na forma como falam. Adoram a escola nova e fazem desenhos, muitos desenhos da porta verde da sala com aquela grande janela circular. Gosto tanto destes meninos e ao mesmo tempo tenho medo desta afeição que criei e que vai crescendo, quase sem eu notar.
Depois de estar tanto tempo sem dar aulas, depois de uma longa espera, ontem, o primeiro dia de aulas, foi muito bom. Se tinha alguma dúvida em outros tempos, agora, tudo isso de dissipou. É certo que a escola nova é uma motivação, as caras novas no corpo docente também ajudam e a vontade em fazer daquela escola um lugar especial, é mais que muita e está presente em todos nós. Continuo a dizer que sou uma utópica. Sonho, idealizo, crio cenários quase perfeitos, vejo possibilidades futuras onde mais ninguém vê, mas o ensino também se faz disso mesmo, de sonhos, de ideias quase impossíveis. Se não for assim, acho que nunca chegaremos mais além porque nos limitamos a ficar pelo agora, pela possibilidade do presente e de "mais do mesmo" está o mundo cheio e a escola também.
Qualquer dia estou aqui a escrever que ando cansada, que preciso de férias, que me sinto desgastada mas, no fundo, isso é apenas a face visível, inconstante, de um sentimento mais profundo, que não se faz desaparecer assim devido a dias menos bons. Talvez me chamem de inconstante ou instável, talvez digam que balanço frequentemente, que nem sempre sei o que quero. Mas sei. Gosto muito de ensinar mas também gosto muito de outras coisas e não ponho de parte a ideia que a minha vida, um dia, poderá seguir um rumo diferente da educação. No entanto, talvez só agora comece a ter mais certeza que ser professora é mesmo a minha profissão de vida. E isso é muito bom.

5 comentários:

Cláudia disse...

Concordo plenamente contigo, amiga!!N�o estou nada arrependida, embora houvesse alturas em que pensei estar arrependida. Hoje e cada vez mais me sinto melhor ali.
Muitas coisas boas ainda nos v�o acontecer e as vamos partilhar naquele espa�o :).

Mommy disse...

Pois é! Também recebi desses abraços e acho que os devolvi com o mesmo entusiasmo e com a mesma saudade que os meus meninos sentiam de mim. Agora é só construir uma identidade para esta escola que nos acolheu. Estou feliz!

Ele disse...

Sinto o mesmo. Só não sei se é bom... Mas que nos faz sentir bem, leia-se realizados, isso sem dúvida alguma.

Sofia Quintela disse...

Que bom é teres essa certeza... eu ás vezes tenho tantas dúvidas, principalmente porque ando semprede um lado para o outro. Estou sempre a pensar numa alternativa ao ensino, porqe no meu caso tenho andado todos os anos de cavalo para burro... é tão desmotivante.

Clementine Tangerina disse...

Bom ano lectivo. Que corra tudo bem :D