quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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A espera passou de um acto digno a uma atitude pouco meritória. Passou a ter uma carga negativa que, com os anos, se foi agravando ao ponto dos outros acharem que somos uns "iludidos".
"Não esperes isso de mim", "Não cries expectativas", são expressões recorrentes que ouvimos na boca do povo e agora, mais do nunca, na boca dos jovens. Acho graça a isso de "viver o dia de hoje e não pensar no amanhã"; acho piada porque, das duas uma: ou não sabem o que querem (o que nem sempre é mau, pois podem querer saber e andam nessa viagem) ou sabem e não o querem admitir, preferindo enganar a sua própria existência nessa forma de estar, negando a si próprios que a espera é inata ao ser humano.
Eu gostava de saber como é que não se espera. Como se vive sem esperar... pelo dia de amanhã, por um almoço à beira-mar, por um email, por um telefonema, pela pessoa - a tal, pela felicidade? Costumo dizer que quem o diz, recorrentemente; quem refere vezes sem conta para não criar expectativas sobre eles próprios, são os que mais esperam e só o fazem porque sabem que a espera também magoa, dói nas entranhas e revolve o coração.
Haverá alguma coisa mais triste que saber que não se espera nada de nós? E no entanto, as pessoas fazem questão de o dizer, como se isso fosse a armadura perfeita para o seu coração.
Ao fim ao cabo, esperamos quase tudo, secretamente. Infelizes aqueles que acham que o mundo é melhor sem esperança. Esses não esperam, desesperam em silêncio e nem sempre alcançam.

8 comentários:

alma de um louco disse...

No meio das 'divagações', hoje (ontem) não temos fotografia...

:)

ana disse...

Amanhã. Fiquei sem bateria. :)

Unknown disse...

É claro que devemos sempre sonhar com o amanhã. Mas viver apenas baseado no que vai acontecer amanhã, no que queríamos que o amanhã fosse, no que esperamos, não aproveitando o hoje, não disfrutando cada momento do presente... é perder muita coisa.

Aprendi isso com a morte muito prematura do meu pai, que desde pequeno viveu sempre a pensar no amanhã, no seu e no nosso futuro e, de repente, alguém lhe ceifou a vida e ele acabou por aproveitar muito, muito pouco aquilo que sempre sonhou para o futuro, para o amanhã, desderdiçando o presente.

Sonhar é bom, esperar pela coisas que gostamos, também. Mas desde não nos esqueçamos de aproveitar todas as coisas que muitas vezes não esperamos e que acontecem hoje.

Manuel Cabeça disse...

bonito, elucidativo;
nota-se que estás mais madura ;)

Calíope disse...

Bem dito!

OLHOS DE MEL disse...

olá
Tenho pena que as coisas simples da vida, os gestos, o respeito, o amor... comecem a ser banalizados...
Como eu adoro surpresas, um convite para jantar, ou até mesmo caminhar à beira mar....
Mas a vida por vezes obriga-nos a usar uma armadura de ferro.
Eu ainda acredito nas coisas boas da vida.No amor e na amizade. E acredito que a vida foi feita para ser vivida....

um perfeito estranho disse...

Brilhante.
Assino por baixo.

Pedro de Payalvo disse...

eu já não sou um desses jovens, e tudo o que vivi, as experiências por que passei, o que observei das experiências e vivências dos outros, trouxeram-me aqui, a este ponto a que tu chamas triste, o que eu mais quero é que não esperem nada de mim, quero ser eu sem ter que fazer fretes, altruísmos, para agradar a alguém, já fiz, e já fui assim, acabou-se, porque nem sempre nos dão valor, e estamos mais expostos a maldades...

não faço planos, nem promessas, até porque prefiro fazer as coisas quando não as esperam de mim, prefiro surpresas, sejam boas, ou más, isso sou eu a decidir quem merece o quê...

e acredita que a tristeza já não me faz companhia há muito tempo, sabes das mudanças por que passei, sabes onde estou, e sou tão mais feliz agora...