Se há coisa que me faz nervoso miudinho é ver algumas colegas desculparem-se com os filhos para não fazerem isto ou aquilo, para se armarem em vítimas e dizerem que têm muito trabalho. Eu pergunto a mim própria porque é que estas pessoas têm filhos. Será que com filhos a vida deles acaba ali? Não há tempo para mais nada? As pessoas anulam-se por completo ou simplesmente "usam" os filhos como desculpa? Ah! E depois vem a famosa tirada "tu és jovem, solteira e sem filhos, não sabes o que custa", que é sempre bom de ouvir.
Sinceramente, eu nem sei como é que há colegas que têm tempo para ir dar aulas, tal é o trabalho que têm em casa e as vezes que invocam os filhos para se desculparem para isto e aquilo. Qualquer dia os projectos, as festas, as formações e tudo o que de extra (ou não) se faz nas escolas só será realizado por professores jovens, solteiros e sem filhos, porque os outros nunca têm tempo, coitados. Vai passar a ser condição sine qua non. Porque nós sim, não temos família, nem vida própria, nem fazemos nada em casa! Somos uns previligiados, diria!
No meio de tudo isto, fazem uma triste figura e esquecem-se que lhes fica muito mal desculparem-se com as suas crianças seja para o que for... principalmente para tarefas que competem a todos.
A vontade, o empenho, o profissionalismo? Onde ficam, no meio de tudo isto?
24 comentários:
Concordo!
Tenho para mim se as pessoas estiverem para aí viradas, arranjarão sempre desculpas para não fazerem seja o que for.
Umas usam a desculpa dos filhos, outras as dores de cabeça crónicas e o rol é infinito.
Muitas vezes o verdadeiro problema não está no que quer que se alegue: está na maneira de olhar a situação e de a avaliar. Porque, afinal de contas, pior do que não ter tempo é pensar-se que não se tem tempo.
Não concordo muito. Sei que os solteiros, e sobretudo as mulheres solteiras e sem filhos, são muitas vezes penalizados, seja na escolha das férias nas empresas, seja na pretensa disponibilidade que todos partem do princípio que têm, etc.
Mas é muito difícil ter crianças nas grandes cidades, em que se perde tanto tempo no trânsito, em que muitas vezes não há estruturas de apoio institucionais nem familiares suficientes, em que as crianças não podem sair de casa...
Agora tens razão que se calhar as pessoas abusam disso para adiar o trabalho ou o empurrarem para outros...
Mas claramente esta geração de recibos verdes (estou a pensar nas empresas com horários intermináveis e não nas escolas) não tem condições para ter filhos...
Eu diria mais: se as pessoas tomam opções, têm mais é que viver com as responsabilidades que daí advêm e não usarem essas mesmas opções como vitimização e desculpabilização para tudo.
Acho piada porque as mesmas senhoras que às vezes olham as solteiras com certo desdém por "não terem responsabilidades", nem terem a credibilidade que a decisão de constituir família dá, nem trazerem consigo a "respeitabilidade" de se ser casado, são também as mesmas que a maior parte das vezes as invejam de morte precisamente pela "liberdade" e "falta de responsabilidades" que supõem que as solteiras têm. E eu pergunto: mas em que é que ficamos? Afinal queriam casar e ter filhos ou não? Ou foi tudo muito pelo show-of de fazer uma festa como manda a tradição e que agrada à família e ter filhos a seguir porque "é assim que se faz"?
Claro que concordo que hoje, de um modo geral, não há condições para ter filhos, sobretudo não há condições laborais nem apoio social. É óbvio que quem tem filhos deveria poder negociar redução de horário nos seus trabalhos para poder dedicar um tempo minimamente decente à família. A questão é que as pessoas querm as coisas caídas do céu; não percebem que têm que lutar com unhas e dentes por elas. E a solução é o queixume... Se bem que, na minha opinião, há muita gente que casa e tem filhos sem saber muito bem porquê mas isso já é outra questão.
tu és jovem, solteira e sem filhos, não sabes o que custa... :)
Fartei-me de ouvir as mesmas desculpas há uns anos atrás quando vivia sozinha e trabalhava com colegas todas casadas e com filhos. Irritava-me tanto esse queixume e esse "nem sabes a sorte que tens" por não ter pilhas de roupa para passar ou sopas para fazer, mas a minha resposta era sempre a mesma: cada um com as suas opçoes, e dentro do local de trabalho somos todos iguais (excepto, claro, quando há emergencias, que tanto podem ser dos filhos ou não). Cheguei a ouvir da minha chefe na altura "o melhor é fazeres tu, que chegas a casa e não tens nada que fazer!" (ãh?)
Por outro lado há imensos exemplos de mães que se conseguem desdobrar e fazer esses tais "extra" apesar de não terem ajudas em casa, pelo que depende mais de como as mães encaram o seu tempo e não tanto da existencia de filhos, acho eu...
Antes pelo contrário, há filhos, mas também há cônjuges com quem dividir as tarefas, ao passo que os solteiros chegam a casa e têm de fazer tudo sozinhos!
Ah, tu és jovem e tal...! :)
lol :) agora imagina-te sozinha na mesma mas a teres de ir a correr buscar o filho à escola (vá o mais tardar às 18h30), fazer-lhe o jantar (sempre em corrida que o miudo era suposto jantar às 19h), dar-lhe banho (a desesperar porque primeiro não queria despir para o banho e agora não quer sair de lá de dentro) e pô-lo na cama às 20h!
UFAAAAA :) E agora dava tanto jeito ir lá abaixo levar o lixo... ou ir passear um bocadinho e fazer umas compras, mas não posso oh :( o puto não pode ficar sozinho em casa, não é?
Minha querida, quando se tem de fazer tudo sozinha não se trata de desculpas, são opções. E não é propriamente uma opção fácil ser constantemente olhada de lado pelos colegas sem filhos por escolher sair à hora e recusar reuniões às 17h (quando a minha hora de saida é às 16h30).
E eu nunca fui de olhar para os outros e achar que se desculpavam com os filhos, mas podes crer que me sentia sortuda por poder chegar a casa às horas que me apetecesse e poder fazer os desvios que me desse na gana.
Mas de vez em quando lá deixo o puto com os avós e deixo de olhar para o relógio :D é tão bom!
Antes de ser mãe não fazia a menor ideia do luxo que é poder andar nos meus afazeres sem olhar para o relógio.
Como tu dizes e muito bem é só desculpas... quem disse que ser solteiro não se tem outras responsabilidades também? Por exemplo no meu caso, trabalho dia todo, estudo, ajudo lá em casa a minha mãe e ainda arranjo tempinho para fazer as coisas que gosto. Agora o problema de quem tem filhos é que os cria dentro "de redomas" e não os ensina desde cedo a contribuir para a ajuda da casa (já para não falar nos maridos) como diz minha mãe , onde todos ajudam nada custa... beijokas
epá, por mais que eu ache que anda por aí muita gentinha a inventar desculpas e a esconder-se atrás dos filhos, sinceramente parece-me mesmo que também há por aí muita gentinha que simplesmente não entende o que é ser mãe e pai, e são coisas que realmente só entendemos ao passar por elas, eu também não fazia a menor ideia da carga de trabalho e falta de liberdade inerente a ser mãe e já agora:
"e não os ensina desde cedo a contribuir para a ajuda da casa"
o gabriel tem 2 anos e todos os dias de manhã é ele que põe comida aos gatos (sim, com ajuda, mas já é tarefa dele).
Aproveitem a vidinha enquanto podem (nunca percebi quando me diziam isto AM - antes da maternidade).
Ainda não consegui decidir se concordo contigo ou não. Eu tenho uma filha, um emprego, um marido e uma casa. Sou, muitas vezes, a última a sair do escritório. Chego a casa e tenho jantar para fazer, banho para dar, jantar para dar, cozinha para arrumar, etc.
Escolhi assim e assumo a minha escolha. No meu escritório só uma não tem filhos. Eu sou a que menos "se balda" por causa da criança: não a tenho no colégio, logo não há festinhas, nem reuniões, nem horários para a ir buscar. Mas, quando preciso, uso o tempo para o que preciso e agradeço que quem não tem filhos não me mande bocas porque tive coisas para tratar.
Ter um filho dá muito trabalho, sim. No meu caso, até não me posso queixar porque tenho uma mãe que me ajuda imenso, mas quem não tem ajudas faz o que tu fazes mais os extras que ter um filho acarreta. Se abusam da desculpa no trabalho? Talvez. Mas acho que é mesmo apenas uma questão de perspectiva. Espero que um dia destes estejas do lado de cá da barricada, como diz a morgy, e compreendas melhor o que é ter um filho, uma casa, um emprego, tudo ao mesmo tempo e sem folgas, para tratar.
Love you!
Eu percebo muito bem isso!!!! Até porque, na pele, muitas vezes senti alguma discriminação por parte de algumas colegas por não ter filhos e ser solteira (normalmente existe logo o preconceito associado à pressuposta opção de não ter filhos, mesmo que não seja o caso, etc...). Curiosamente não sou a única a sentir isso tb. Lembro-me de um colega meu que quando ouvia essa conversa e esse argumento para a falta de tempo e excesso de trabalho dizia muito frontalmente não lhe me interessar nem quero saber da vossa alheia e privada rematando (talvez com um pouco de malícia) com um: "Eu nem ajudei a fazer os vossos filhos! Se tivesse participado ainda quereria saber mas assim...". De qualquer modo conheço mulheres - estou a lembrar-me particularmente e duas actuais colegas - que têm filhos (2 e 3 filhos) e nunca se queixaram nem os tomaram como desculpa. Cumprem o seu papel de óptimas profissionais mesmo que o cansaço seja evidente, e normalmente conseguem ainda dar animo aos restantes colegas :) é tudo uma questão de perspectiva sim, e de entrega e de personalidade tb talvez. E pano para mangas... Dá parte que me toca, apesar de me sentir bastante cansada, na maior parte das vezes, penso que estaria disposta ao dobro do cansaço, tendo um filho, por ser tb uma opção, um desejo, uma parte de mim. Pode ser que um dia mude de opinião :)
p.s. Também dou por mim, às vezes, a pensar a mesma coisa que o Pedro
Bolas! o texto ficou cheio de gralhas :(
experimenta ir todos os dias por duas crianças a infantários diferentes, trabalhar 12 horas seguidas, voltar para casa, ir buscar dois miúdos, que estão tão cansados como tu, mas são crianças e precisam de atenção, jantar, deitá-los olhar para o relógio, acabar tarefas que ficaram por fazer do trabalho, dormir cinco horas por noite, começar tudo de novo...
é um privilégio do caraças....
Se calhar não me expliquei bem. Entendo perfeitamente o que é ser pai e mãe! E longe de mim estar a querer generalizar, além disso acho que não devem abdicar dos seus direitos (redução de horário, hora de amamentação, etc, etc.) mas não é isso que estou a pôr em causa. Apenas me estou a referir àqueles que, para tudo e mais alguma coisa, falam dos filhos e que ainda dizem vezes sem conta que os solteiros não sabem o que é isso da maternidade e paternidade. Claro que ainda não sabemos! Mas ouvir isso vezes sem conta como se fosse a pior coisa à face da terra, é cansativo, acreditem.
E se eu nunca quiser ser mãe?
Et in Arcadia Ego: Ter filhos não é privilégio? Eu acho que é! Tudo isso de que me fala são consequências que advêm naturalmente da escolha que se fez, ou não?
Normalmente quando discordo de um post, por uma questão de respeito, abstenho-me de comentar, mas é-me impossível não comentar este. Calculo que já fizesses ideia de que nem todos os teus leitores fossem concordar contigo.
Ter filhos é realmente um privilégio. E quem o faz com o coração entende que a partir do momento em que nos nasce o primeiro, as prioridades na nossa vida mudam.
Parece-me que defendes que uma pessoa que tem filhos tem duas hipóteses: ou é mãe/pai a tempo inteiro ou entrega os filhos aos professores/amas/educadores para que cuidem deles e se possa dedica a 100% (como antes) ao seu trabalho.
Acho que para um progenitor esse 100% devia ser reduzido até os filhos terem determinada idade.
Eu também sou professora. E, apesar de ser extremamente dedicada e preocupada com os meus alunos (e isto inclui aprendizagem, pais, problemas sociais, problemas disciplinares e por aí fora) já tive de sair a meio de reuniões porque não podia abandonar os meus filhos na escola e não tinha quem mos fosse buscar, já tive de fazer férias forçadas porque eles estavam doentes e não tinha quem me ficasse com eles, já tive de os levar para as (minhas) aulas porque não tinha quem me ficasse com eles, já tive de trocar aulas para poder ir às festas da escolinha deles e é-me sempre difícil encaixar mais uma acção de formação. E sinceramente acho que eles merecem esse sacrifício. Que saiba, nunca prejudiquei nenhum colega nem nenhum aluno à conta disso. Claro que depois também não me fica tempo para sair com os amigos, pintar as unhas ou ir ao cinema, mas eu não me importo.
Seguindo o teu raciocínio, e estando do outro lado, posso-te dizer o que vejo: O meu colega sem filhos parece ter uma vida tão simples! Fica até ao final das reuniões, não falta e tem sempre imenso tempo para fazer testes e fichas. No entanto é um professor menos dedicado que eu, que trabalho aos soluços, sempre interrompida pelas doces exigências dos meus pequenitos.
E a verdade é que no meio disto tudo, o mais importante são mesmo os meus filhos. E às vezes tenho pena do tempo que não passo com eles para estar a trabalhar, e que é tanto, tanto…
Calculo que este teu post se deva a algum caso específico e chocante que viste. Não posso imaginar que seja de outra maneira. No entanto acho-o desrespeitoso para muita gente que faz das tripas coração para não falhar como pai e como profissional.
Tudo de bom.
Paula
Daisy: Não me percebeu. Não generalizo e não estou a desrespeitar ninguém. Não pode afirmar tal coisa e se alguém se sentiu lesado, peço desculpa, mas nunca quis dizer que os pais e mães não se esforçam em casa e no trabalho!
Eu falei em algumas pessoas. Obviamente que há pais e mães que são excelentes profissionais e fazem até mais do que eu ou outras pessoas. E depois, não disse que os filhos não devam estar em primeiro lugar. Nunca disse isso, que fique bem claro! E não há para mim essa escolha entre dois extremos, como referiu. Estou é cansada da mesma conversa todos os anos, a toda a hora, só porque há quem não tenha filhos.
Peço então desculpa. Entendi mal.
Eu diria que o teu comentário é tão verdade como aquele que fazem sobre os professores: Que dão umas aulitas e passam o resto do dia a passear e ainda por cima têm mais dias de férias que o resto do povinho que se mata a trabalhar.
Estou contigo!
Eu desde que nasceu a minha filha que quando chega a altura da distribuição de serviço anuncio a minha impossibilidade de dar as aulas nocturnas. A "desculpa" é sempre a mesma, não ter com quem deixar a minha filha.
E em todos esses momentos o meu incómodo é enorme, porque levo com muitos olhares silenciosos que pensam o mesmo que a Sofia aqui escreve.
Peço desculpa pela intromissão, até porque é primeira vez que passo por aqui (e nem sei como cá cheguei), mas considero que este post foi desnecessário e inoportuno, por variadas razões que julgo já estarem explanadas nos outros comentários. Todavia, recomendo que guardes as palavras que escreveste, e que um dia a sorte te toque à porta, e que venhas ser mãe. De certo que nessa altura compreederás melhor...
Até lá, aproveita a tua 'singularidade' ao máximo...
abraço
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