[foto do meu pai, 1984/85]
...dos dias de férias de Verão que passava em casa da meus avós. Logo de manhã eu e o meu primo fazíamos uma corrida à capoeira para irmos buscar os ovos ainda mornos no meio das palhas sujas das galinhas. Felizmente, nunca deixámos cair nenhum mas conseguimos partir uma pata a uma galinha enquanto tentávamos que ela voasse mais de dois metros... escusado será dizer que nessa noite houve canja para o jantar...
Nos dias em que a nossa avó cozia pão no enorme forno de lenha, tínhamos sempre uns pãezinhos mais pequenos especialmente feitos para nós e com eles preparávamos o nosso lanche especial: partíamos os pães às fatias, barrávamos as fatias com manteiga
Planta e deitávamos por cima uma boa camada de açúcar branco. Depois regalávamo-nos com aquele petisco. Eu, só parava quando já estava enjoada de tanto açúcar...
Às vezes também acompanhávamos os nossos avós nas actividades da quinta: o meu primo ordenhava as ovelhas e, enquanto ele bebia o leite ainda morno, acabado de ordenhar, eu fazia inúmeras tentativas nos pobres animais para que algum leite saísse das suas tetas, mas nunca fui bem sucedida...
Nos dias de regar o milho, jogávamos à apanhada e às escondidas no meio do milheiral enquanto a nossa avó gritava para tivéssemos cuidado e não partíssemos nenhuma cana de milho. Nesses dias ficávamos sempre com a pele dos braços vermelha de tanto roçar nas folhas do milho e mais tarde, sentíamos uma comichão tremenda que demorava a passar.
Quando estava muito calor despejávamos o tanque da água suja e voltávamo-lo a encher com a água gelada e limpa do poço que havia atrás da casa. Depois de algumas horas enfiados no tanque, tremíamos de frio e ficávamos com a pele enrugada, mas nessa altura a temperatura da água não tinha nenhuma importância e o que interessava era brincar, brincar e brincar. Também ajudava a minha avó quando punha a roupa a
corar ao sol, em cima das ervas que cresciam em redor do tanque e eu achava aquilo o máximo porque a roupa ficava mesmo branca e não percebia bem como é que isso acontecia...
De noite o tempo também era longo. Quando os adultos nos deixavam, estendíamos uma manta no pátio em frente à casa e deitados de barriga para cima, olhávamos o céu carregado de estrelas e contávamos as estrelas cadentes que cortavam o céu. Foi assim que aprendi a reconhecer algumas constelações e foi ali que vi a Via Láctea pela primeira vez.
É isto o sal da vida, não é?